Pesquisadores da UnB criam base de dados espacial e site para Sismicidade Desencadeada por Reservatório no Brasil
Mapa do Brasil mostrando terremotos naturais (pontos brancos) e RTS (pontos vermelhos) no Brasil
O fenômeno de Sismicidade Desencadeada por Reservatório (Reservoir-Triggered Seismicity - RTS, na sigla em inglês) foi observado pela primeira vez na década de 1930. No Brasil, o primeiro caso foi um terremoto de magnitude 3.7 registrado no reservatório de Carmo do Cajuru, MG, em 1971. Aproximadamente 188 casos de RTS são conhecidos em todo o mundo, dos quais 30 ocorreram no Brasil.
Agora, um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília publicou um estudo sobre RTS que apresenta os procedimentos e resultados encontrados no processamento de dados de fatores sismotectônicos, como altura da barragem, capacidade do reservatório, litologia e sismicidade. Os pesquisadores também compararam esses fatores às barragens que provocaram terremotos e à uma lista de 30 barragens brasileiras.
Os resultados indicam que fatores como altura, volume, área, geologia local da barragem, magnitude máxima e sismicidade na região podem interferir na RTS. Segundo os pesquisadores, dos 348 reservatórios analisados, 8,6% apresentavam RTS, mas apenas dois eventos tiveram uma magnitude máxima maior ou igual a 4.0.
Do ponto de vista regional, a região sudeste, que possui 43% dos reservatórios do país, tem o maior número de casos de RTS. Além disso, também concentra o maior número de reservatórios acima de 50 metros e a maior ocorrência de terremotos naturais. No entanto, proporcionalmente, a região nordeste é a que apresenta o maior percentual de casos de RTS 17.8%.
Por outro lado, a ocorrência de RTS aumenta significativamente com a altura da barragem. Barragens com menos de 50 metros de altura causam apenas 2% dos terremotos, enquanto aquelas com mais de 100 metros causam cerca de 54%. O volume do reservatório também influencia fortemente sua capacidade de causar um terremoto.
Além das análises apresentadas, o grupo desenvolveu uma base de dados, em parceria com a professora Maristela Holanda do Departamento da Ciência da Computação da UnB, e um site para RTS no Brasil (RISBRA-Reservoir Induced Seismicity in Brazil). O banco reúne todas as informações disponíveis, como dados físicos, estruturais, geológicos e geofísicos do Brasil, direcionada para reservatórios, e visa facilitar a pesquisa nesse campo.
Por fim, os pesquisadores observaram que, desde o estabelecimento da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), em 2011, a aquisição de dados de monitoramento sísmico melhorou. E ressaltaram:
“Mais importante, este trabalho mostra que a possibilidade de ocorrência de RTS no Brasil não pode ser negligenciada e destaca a importância do monitoramento contínuo, antes, durante e após a construção de uma barragem”.
A pesquisa foi desenvolvida por Eveline Sayão, George Sand França, Maristela Holanda e Alexandro Gonçalves e publicada em 22 de julho na Natural Hazards and Earth System Sciences.
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Lorena Amaro
Coordenadora de Comunicação
Rede Sismográfica Brasileira (RSBR)
lorena.costa@cprm.gov.br
(21) 98310-2866